Ela levantou os olhos de seu trabalho:' O que queres que eu te leia, querido? As fadas?' Perguntei, incrédulo: 'As fadas estão aí dentro? ' A história me era familiar: minha mãe contava-a com frequência. (...) Durante o tempo em que falava, ficávamos sós e clandestinos, longe dos homens, dos deuses e dos sacerdotes, duas corsas no bosque, com outras corsas, as fadas. Anne-Marie fez-me sentar à sua frente, em minha cadeirinha; inclinou-se, baixou as pálpebras e adormeceu. Daquele rosto de estátua saiu uma voz de gesso. Perdi a cabeça: quem estava contando? O quê? E a quem? Minha mãe ausentara-se: nenhum sorriso, nenhum sinal de conivência, eu estava no exílio. Além disso, eu não reconheci sua linguagem. Onde é que arranjava aquela segurança? Ao cabo de um instante, compreendi: era o livro que falava. (...)
(SARTRE,2005)Trecho retirado do livro "Interações: com olhos de ler", p.3
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